Não se pode definir, atualmente, a instalação de uma indústria química em determinada localidade somente com base em termos de existência de recursos naturais locais, um mercado promissor, mão de obra qualificada, infraestrutura adequada e ambiente de negócios favorável. É necessário também que na origem do empreendimento estejam dadas também as condições de existência de uma cultura de inovação, visando ganhos contínuos de produtividade.
Se no passado pouca importância era dada para ganhos de produtividade, mascarada por reservas de mercado, subsídios estatais, economia fechada à importações, tem se atualmente mudança radical deste cenário, tanto em face de uma competição global entre as diversas empresas, como também pela própria disputa local em um mercado cada vez mais acirrado.
É nesse contexto que, “entidades empresariais, governo e agências de fomento discutem estratégias para estimular e organizar a disseminação da manufatura avançada no Brasil, um conjunto de tecnologias que sustentam processos industriais inteligentes. O desafio é garantir competitividade à indústria brasileira frente a uma transformação que ganha corpo na Europa e nos Estados Unidos, dando mais eficiência e flexibilidade a linhas de produção e reduzindo custos. A tendência também é conhecida como Indústria 4.0, alusão ao que seria uma quarta revolução industrial – com impacto na forma de produzir equivalente ao obtido com a invenção da máquina a vapor, com a chegada da energia elétrica a unidades fabris, no século XIX, e, num passado mais recente, com a integração da eletrônica e da automação no chão de fábrica.” (http://revistapesquisa.fapesp.br/2017/09/22/a-corrida-da-industria-4-0/, acesso em 04/10/2017)
Com base nesta preocupação, dirigentes do setor industrial do Espírito Santo se apresentam para o debate em torno de como se dará a inovação no âmbito da indústria 4.o, conforme pode ser verificado na entrevista abaixo:
https://www.tribunaonline.com.br/tribuna-livre-inovacao-que-gera-desenvolvimento/
Em relação á Engenharia Química, de acordo com o professor Carlos Augusto Guimarães Perlingeiro, Engenheiro Químico e professor emérito da UFRJ, no prefácio de sua obra, “Engenharia de Processos – Editora Edgard Blucher”, “os conhecimentos adquiridos pelo engenheiro químico no decorrer de sua formação podem ser reunidos em quatro grupos, na seguinte ordem de agregação: as Ciências Básicas, que tratam da descrição e da quantificação dos fenômenos naturais; os Fundamentos, que tratam da compreensão e da representação dos fenômenos que ocorrem nos equipamentos; a Engenharia de Equipamentos, que trata da concepção, do dimensionamento e da análise dos equipamentos da indústria química; e a Engenharia de Processos, que compreende a concepção, o dimensionamento e a análise dos processos industriais.”
É portanto no interior da sub-área da Engenharia Química definida como Engenharia de Processos, que se darão as transformações mais notáveis provocadas pela quarta onda da revolução industrial, ou Indústria 4.0.
De acordo com Perlingeiro, a Engenharia de Processos voltada para o contexto da indústria química começou a tomar forma somente entre os anos 60/70 do século XX, com a publicação de livros de autoria de Rudd e Watson e Rudd, Powers e Sirola, e no início dos anos 80, com os trabalhos de Nishida, Stephanopoulos e Westeberg.
De forma resumida, pode-se considerar uma rota de produção, em uma indústria química qualquer, como um processo que compreende infinitas variações, em virtude dos parâmetros relacionados a ele (p.ex.: pH, concentrações, vazão, temperatura, trocas de calor, tempo, etc.). Sendo assim, problemas de otimização embutem sempre soluções em nível estrutural e no nível paramétrico, cujo desenvolvimento é amplamente explorado na grande fronteira aberta pela revolução digital, em curso desde o início do século XXI.
Deste modo, soluções otimizadas para situações representadas por Árvores de Estados, ganham continuamente e cotidianamente, propostas computacionais de soluções para representações de fenômenos de interesse da indústria química, de grande complexidade.
Neste contexto, ressalta-se a importância do ensino, em cursos de graduação de Engenharia Química, para disciplinas que abordam as linguagens C++, FORTRAN, VISUAL BASIC, MATLAB e EXCEL (avançado). No contexto profissional é cada vez maior o suporte de decisões do Engenheiro Químico com base nos programas HYSYS, CHEMCAD, ASPEN, PRO II, dentre outros.
No âmbito da indústria, é destaque a substituição de sistemas de controles analógicos por digitais, integrados em sistemas supervisórios denominados pelo termo SDCD (sistema digital de controle distribuído).
Um exemplo de uma estrutura de um programa computacional para uma análise de processos típicos da indústria química, pode ser visualizado na figura abaixo:
Fonte: Perlingeiro, Engenharia de Processos, p.32
Vinte softwares para a Engenharia Química:
http://crq4.org.br/informativomat_1264
Entretanto, o que vem a ser a quarta onda da revolução industrial ou indústrai 4.0 ?
Para saber mais sobre os impactos da Indústria 4.0, considero muito interessante a leitura das seguintes matérias:
https://blog.algartelecom.com.br/tecnologia/industria-4-0-muito-alem-da-automacao-industrial/
http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-09/governo-e-fiesp-lancam-programa-para-incentivar-industria-40
No Espírito Santo, temas de importância para a Indústria 4.0 foram abordados durante o 8º Encontro Nacional de Tecnologia Química – ENTEQUI (evento oficial da ABQ- Associação Brasileira de Química) ocorrido em Vitória, no período de 9 a 11 de setembro de 2015, sob o tema central: Inovação na Indústria: o que podemos esperar para o Futuro?
No encerramento do evento, ocorreu a mesa redonda “Gestão Sustentável de Cadeias Energéticas”, com moderação de Robson Valle, e apresentado por Alexandre Szklo da COPPE-UFRJ, com as contribuições de Alvaro Schocair de Souza (Schocair Business) e Gustavo Lucchesi Rodrigues (Notox Biolubrificantes).(http://www.abq.org.br/entequi/2015/relatorio.html, acesso em 04/10/2017)
Faço ao fim deste texto, uma pequena homenagem ao professor Carlos Perlingeiro, um pioneiro da Engenharia Química Computacional, que com seu trabalho alicerçou os fundamentos para que nossa profissão contribua decisivamente com a Indústria 4.0. Apresento portanto seu breve histórico profissional.
http://www.eq.ufrj.br/docentes/per/Curriculo%20Resumido.htm
Para saber mais:
https://jornalfatosenoticias.com.br/index.php/2023/09/28/a-contribuicao-da-engenharia-quimica-para-a-ecoinovacao-capixaba/